
Novo ovo
Andava quebrando. Vai ver que era quebranto. Nem mais pranto havia. Só brindes pela metade, coisas da falsidade. Farta saudade.Tinha sido maldade. Nem mais nada tomava que coubesse em taças e farsas. Os pés já não mais podiam estar descalços com medo dos ínfimos cacos. Sapatos. Matos. Trilhas. Filhas. Malditas. Malquistas. Mal vistas. Tantas parcas conquistas. Olha a cinta. Não sinta. Palavrório do seu Honório. Nó no rio. Fio caudal. Raio marcante. Buraco escaldante. Nem bem amantes. Tantos antes sem amanhã. Tantas manhãs sem sol. Tantas manhãs sem nuvens. Tantas manhãs sem chuva. Tantas manhãs sem garoa. Tantas manhãs sem arco-íris. Tantas manhãs sem quero-quero. Tantas manhãs sem cocoricó. Tantas. Tantas. Tantas. E as tampas? Esse céu tapado cinzento roubara as suas. Da panela. Da janela. Escancara-se a esmo. Nessa casa não. Não se pode comer torresmo. Não há mesmos. Isso. Isso. Milho transgênico, coito despelado higiênico, mar alergênico.


Ondas de coceira, de tonteira. Vai passar. Paninho com água gelada. Pá, ninho de novo. Desses ovos direto do cu de galinha feliz, não. Só aqueles quase de plástico, com gênese de ração e hormônio. Aquele dos supermercadões. Os caipiras. Esses não. Não tinha nada a ver com dinheiro. Eram muito fortes. Faziam mal. Empresta o barranco. Lá em cima. Empurra esse negócio que estão chamando de humanidade. Essa que não aceita, não reconhece mais ovo. Que vê ovo onde mal há... Só nascendo de novo, povo bobo. Deve ganhar o pão numa granja. Ajeita a franja, dobra a manga, se exibe na canga. Ovo de plástico será que engorda menos? Plástico, silicone, felicidade no smartphone... É o caminho. Natural, natural.
Onde estão os ovos da natureza morta do afresco de Pompeia? Vem Vesúvio. Nem nas mais distorcidas distorções de Cezanne os ovos virariam o que viraram. Nem nos delírios de Dali. Ovos fritos agora são em frigideira antiaderente. Temos medo do colesterol, mas não daquele troço preto saindo na comida.
Theodule Ribot. Nos dê ovos claros e cantis menos escuros para infantis e senis que têm sede, que nascem com mágoa e morrem sem água. Influencie além do amém, além da cozinha.
* A Christianne Pinheiro, do Canal Vomitando Arte, me ajudou a encontrar as duas primeiras obras abaixo... Obrigada a ela por sempre me atender e me apresentar obras representativas e um tanto menos conhecidas.
* As fotos da caixa de ovo, ajudando lixeiro a não se cortar, são minhas, feitas com celular.
* Fica atento porqu quero incluir mais obras. Quem quiser incluir mais obras aqui, fala comigo.
* Lê essa entrevista com Ailton Krenak. Mas lê mesmo.

Afresco feito em Pompeia

Théodule Augustin Ribot

Paul-Cezanne

Salvador Dali