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Entre quatro paredes tudo pode, tudo fode, lorde da  sorte.  Eu, se fosse ela, uma pintora de mão cheia, só te escolheria para estudar anatomia.  Vinha, é certo,  sufocada pelo sofisma que atingiu tantas Sofonisbas lá do renascimento. Vento que se espalha  até hoje.   Ela era uma mulher  demais,  reconhecida até  por Michelangelo, o bonzão da vez ( ah o aval, sempre o aval)...  Os quadros dela  rodaram a Europa, fizeram sucesso, o trabalho abriu espaço para outras mulheres pintoras...  Só que aí, depois,  quando ela já estava  lá nos sete palmos embaixo da terra,  uns e outros ficaram achando que o  trabalho sem assinatura  pertencia a grandes homens pintores  da época. Um apagamento da história da arte. Sofonisba  queria  pintar quadros  muitos, mas acabava tendo que se contentar em fazer pinturas de ambientes domésticos porque mulher não podia dividir sala de aula de anatomia com homem .   Aonde mais poderia adquirir segurança  para pintar outros temas?  Saca aula de anatomia? Uma pessoa lá parada pelada para os artistas pintarem.  Ela  não podia frequentar.  Nenhuma mulher podia.  Mas, os retratos de figurões da alta corte que pintou eram só elogios.  Então, que o nome dessa mulher  se integre para sempre nas caixolas que só guardam nomes de machos da pintures.

T

U

D

O

P

O

D

E

N

É

L

O

R

D

E?

Lorde, lorde, lorde.  Deve achar que é sorte nem ser a  morte o final de tanta garota de short provocante. Deve achar que é sorte ter conhecido o lorde. Idade média, renascimento, idade moderna,  mundo  contemporâneo.  O pior mesmo é esse futuro em dia de relâmpago  escuro atrás do muro.

A foto, que é de uma paisagem da peça SETE foi feita pelo seu diretor Thadeu Peronne.  A peça, com texto de Dione Carlos, esteve em cartaz em Curitiba no mês de outubro. No palco a atriz Geisa Costa vive o momento de um estupro.  Não há rosto na foto.  Não há que identificar uma mulher. São duas, três, quatro, mil...

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O texto metafórico dialoga com A Divina Comédia, de Dante Aliguieri.

“matinais horas e a doce estação;
mas não tanto que medo não me desse
a vista, que surgiu-me, de um leão

que parecia que contra mim viesse
co’ a fronte erguida e com fome raivosa,
parecendo que o próprio ar o temesse.”
(A DIVINA COMÉDIA – INFERNO, Dante Aliguieri)

Deus benevolente. Olhai por mim. Quinze leões, Senhor. Quinze. Rugindo e abanando seus rabos sobre mim.” (SETE, Dione Carlos)

“esses, de quem foi sempre a vida ausente,
estavam nus, às picadas expostos
de uma nuvem de vespas renitente,

que lhes fazia riscar de sangue os rostos,
que, às lágrimas mesclado, a seus pés
colhiam molestos vermes ali postos.”
(A DIVINA COMÉDIA – INFERNO, Dante Aliguieri)

“Água, água, água. Meu corpo está repleto de picadas, Senhor. Água por todos os lados. O fundo era branco e está vermelho. Quem sujou o fundo de vermelho? O mundo era branco e ficou vermelho. Eu não fiz isso, mamãe. Eu juro!  Havia um enxame de vespas!  Eu fui picada muitas vezes! As vespas picaram o meu rosto, entraram pela minha boca e agora habitam os meus pulmões.”  (SETE, Dione Carlos)

Artemisia Gentileschi uma pintora barroca italiana, entenderia a metáfora das vespas de primeira.

Ela é considerada uma das mais bem-sucedidas pintoras de uma época em que mulheres não eram reconhecidas pela comunidade artística. Ela foi a primeira mulher a se tornar integrante da Academia de Belas Artes de Florença

O que deve ter sido participar ativamente do julgamento do seu estuprador lá no século XVII?  Quanto tempo demorou para que a obra e a história dessa mulher fosse resgatada, depois de rasgada...

Karen Monteiro - jonalista produtora de conteúdo e tradutora do alemão e inglês
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