Para de gritar isso seu i
21 de set de 20203 min
Marcelo Torrone
ARTISTA: Nilo Previdi
TÍTULO: Natureza Morta
DATA: 1962.
TÉCNICA: Gravura em Metal (água tinta/água forte).
DIMENSÕES: 18 x 21 cm
DESCRIÇÃO DA OBRA: Composição com formas deixando ver a imagem de três (ou quatro) garrafas estilizadas. Impressão em tinta preta.
DADOS DO ARTISTA: Curitiba, PR, 1913 – Curitiba, PR, 1982. Pintor e gravador. Estudou pintura com Guido Viaro, escultura com João Turin e Erbo Stenzel e modelagem com Oswaldo Lopes. Foi aluno de Poty em gravura em metal e autodidata em xilogravura. Em 1950 criou o Clube de Gravura do Paraná, depois, Centro de Gravura do Paraná. Participou da I Bienal de São Paulo em 1951. Formou-se na EMBAP em 1960.
"Borrasca é o que me veio na cabeça quando vi a gravura. É uma música que fiz em 2004. Ela é como se fosse uma tradução musical de uma tempestade. Ela é meio mântrica. Ressoa. Não sei direito dizer, racionalmente, porque eu escolhi. Acho que tem a ver com a coisa da natureza-morta."
Natureza que morre, que tem que lidar com os humanos-tempestade e vai sendo arrasada. Acho que é isso que ele quis dizer. Não somos aquela tempestade natural, que limpa mar, que limpa ar. Somos aquela tempestade-moral mesmo. Tempestade de vergonha. Devia ser de vergonha na cara. Os riscos feitos pelos sulcos do ácido na chapa me lembram os riscos agudos e doídos de uma tempestade.
Torrone vai além da referência à natureza-morta tradicional em frame, congelada, da arte visual.
Paul Cèzanne - A Cesta de Maçãs), c. 1893 – óleo sobre tela – 65 x 80 cm
Aliás, o que Cézanne – que pintou tantas naturezas-mortas - diria desse meu jeito jogado, sem pompa de tratar natureza-morta? Ele que vivia num tempo em que a fotografia estava fazendo os pintores procurarem outras perspectivas para representar o seu objeto, ele que inspirou o cubismo das mil faces, acho que ia achar ruim. Afinal, a dele não é retrato fiel do nosso olhar tridimensional, não congela a natureza do jeitinho que a gente vê. Dá novas caras a ela. Derrete o normal, o natural.
Mas, a verdade é que enviei essa gravura porque as garrafas, pela forma, me lembraram teclas de piano, o instrumento do Torrone. Quanto contei para ele, ele disse:
Olha só. Tudo dialoga em algum lugar. Gostei!
Bem isso. Tudo dialoga. É a gente que vê as possibilidades no meio desse labirintoso caminho da vida. Ô osso. Para os cachorrinhos do Torrone que já devem ter aprendido piano. Tenho vontade de voltar a aprender, mas o piano foi vendido para um aluno do Torrone, anos atrás. Quem sabe um dia ganhe na loteria e compre de volta. Pede para o seu aluno guardar Torrone ou pelo menos saber qual o caminho do labirinto em que ele vai colocar o piano.
Marcelo Torrone
- Essa música faz referência a Erik Satie que compôs o conjunto de obras Gnossienne. Como achei que ficou parecida, que remeteu à obra de Satie pus esse nome. Gnossiene é relativo à ilha de Knossos, que fica em Creta, aquela do mito do Minotauro.
- Você se sente num labirinto?
- Totalmente. A gente é um ser com muitas possibilidades, né? Realmente, eu me sinto num labirinto. Mas... Eu vou indo... (risadinha daquelas conformadas).