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Ouvindo 7- Para o Dia da Consciência Negra

Atualizado: 17 de dez. de 2021

Achei que o boletim Ouvindo dessa semana já estava resolvido. Mas aí ouvi a Virginia Rodrigues no início da aula do Tiganá Santana ontem, tive contato com um texto dele (LEIA AQUI) sobre capoeira, sobre a roda, sobre o não o começo e não o fim... Acabou que mudei tudo. Me deu vontade de escrever. Não sou de ficar fazendo publicações em datas comemorativas. Sou daquelas que acham que há temas que são para sempre... Mas esse dia 20, esse Dia Nacional da Consciência Negra, se impôs.


Minha mãe pediu para eu inventar alguma coisa na cozinha com o espinafre que eu tinha comprado na feirinha de orgânicos do terminal. Estou tentando criar o hábito de comprar dos pequenos produtores. Ando um pouco, carrego sacola, mas ganho o dia, a semana, o mês, a vida que não é tempo de relógio. Fui pra cozinha, tirei as folhinhas dos cabos, bati os cabos no liquidificador, coei para aproveitar a água verde e fui pensando no meu macarrão com molho branco e espinafre sem creme de leite. Não suporto, não suporto mais ver receita na internet. Tudo tem creme de leite, leite condensado, luto assado patrocinado pelo rápido processado. Fujo pro ritmo do mato. Pelo menos, no meu pensatempo pensamento passatempo.

Parei um pouco, peguei o celular para fazer a comida embalada pela voz do Tiganá e ir me inspirando para esse texto. O áudio não saiu de nenhum dos vídeos dele. Para zoar coloquei uma porcaria relacionada à política do genocida. O áudio veio na hora. Acontece sempre em dias importantes quando quero me inspirar ou publicar algo. Falha internet, vídeo não entra, site sai do ar. O bloqueio não me bloqueia. Hahaha. A vontade de escrever vem mais forte. Resolvi começar descrevendo o meu dia em vez de procurar por frases para as músicas. Elas têm mais é que ser ouvidas.



Explicar os termos da letra Dembwa (10 de agosto) é para poucos. Parei já no início, no Cajado de Lemba. Não tenho conhecimento para tanto e até ler tese da internet o texto não sairia hoje. Tô pensando em pedir para o Tiganá falar da letra para a gente na aula... Oxalá ele aceite fertilizar as nossas cacholas... De bacante bacana batendo cajado no chão para fazer fluir vinho, leite e mel nos rituais para devorar carne crua do bode dilacerado para consagrar Dionísio... De corpo e sangue de cristo... Disso sempre se fala. Isso pode. Quero o que as escolas mal abordam, que os museus mal mostram, que as instituições falam só para não dizer que não falaram, que o noticiário põe lá, de vez em quando, rapidinho e superficialmente, só para constar e mostrar a preocupação oportunista. Quero respeito ao sangue e a pemba dos terreiros de candomblé. Quero entendimento lento sobre os orixás. Quero tratamento desigual para eles. Isso mesmo. Que se fale bem mais deles do que da importância do legado da igreja católica na constituição dos nossos saberes. Enjoada de clipe mostrando a igrejinha da praça da cidadezinha. Cansada de curadoria que procura músicos que falam de Jesus na cruz. Me poupe do que já está mais do que posto na história construída pela tentativa sistemática de apagamento e demonização da cultura africana. Se é para falar de colosso branco, que se fale primeiro de corpo e sangue transformados em osso nos porões dos navios.



Vem encruzilhada. É dessa cruz de braços abertos para o sol nascente e para o poente que se trata. É a roda que foge da moda que comanda pés descalços. Cadafalso. Cada falso. Passo em falso. Laço no traço. Trapo rasgado no mato. Fato escondido no salto. Não é o alto. É o caldo calunga. É o caldeirão. É a fogueira e o chão. Na contramão.


*Os outros Ouvindo que eu fiz só boletins mais curtos e não coloquei no blog...

Ouvindo 7 (é esse)


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