O acorde te pega dali, te pega daqui.
- Para de gritar isso seu i
- 25 de out. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 9 de dez. de 2019
Como a indústria cultural de massa se vale dos absurdos bozonianos e do cotidiano para se encalacrar mais na nossa vida. Segue o posicionamento do PARA DE GRITAR ISSO SEU IRRESPONSÁVEL porque três fatos desses últimos dias têm a ver com música, coincidentemente.

Rock é coisa do diabo – Então... Se o sem noção da Funarte diz que rock é coisa do diabo, a boa parte dos jovens que, ainda bem, quer ficar do lado oposto ao que esse desgoverno retrógrado fala vai querer formar mais e mais bandas de rock. A menos que percebam que entre o rock e o comentário ridículo tem algo chamado discernimento. É preciso ficar claro que o rock, principalmente o americano, toma uma proporção descabida no cenário musical. É necessário que mais gente diga isso. Que esse bordão esteja na boca das pessoas. E que isso não signifique estar defendendo o comentário do cara que faço questão de não lembrar o nome. Percebem como esse comentário vai no rumo de enfraquecer o cerne da discussão proposta pelo PARA DE GRITAR ISSO SEU IRRESPONSÁVEL? Percebem que é preciso ver o que há entre a cruz e a caldeirinha? Não dá para reduzir a discussão a isso. Não dá para continuar caindo nessa armadilha que faz a gente engolir ou música midiática ou hino gospel. E tanto músico trabalhando feito louco para tentar ganhar a vida produzindo música de verdade... Enquanto isso, as hamburguerias, bares e restaurantes não se incomodam em reproduzir a mesmice. É seu papel entrar nesses lugares e pedir outro tipo de música.
Di Caprio colabora com queimadas – A partir desse comentário ridículo do Bozo, surgiu, mais do que depressa, para satirizar o fato um vídeo com cenas do Titanic, acompanhado pela trilha do filme, lógico. Surgiu em boa hora? Surgiu. Foi bom para as ONGs que denunciam as queimadas na Amazônia? Lógico que foi. O Di Caprio é legal? Sim, é. Mas a questão é outra. Se precisamos tanto da ajuda externa, que ela venha também acompanhada de um anseio, de um reforço, de uma iniciativa interna. Não é triste saber que o lá de fora tem que falar por nós, enquanto ficamos calados? E que esse alguém de lá ainda é acusado de colaborar com as queimadas pelo próprio governo? E mais: não é triste que a melhor defesa, nesse caso, seja esse vídeo que incrusta mais no nosso cérebro o quê? A balada e o cinema americanos. Acho realmente triste uma sociedade que tenha como melhor referência, melhor argumento de defesa essa sátira que só faz aumentar a força da indústria cultural de massa. É uma força tentacular que não vou chamar de invisível porque está muito na cara. Vou chamar de força obscura. Há que abrir os olhos para enxergar essa tentativa a todo custo de nos amalgamar a uma outra cultura e diluir nossa identidade nos deixando à sombra, à margem de nós mesmos. O que temos para nos agarrar é muito frágil, com gosto ruim, cheiro de esgoto, imagem do inferno, acordes super mudernos (contém ironia, para não restar dúvida). Não somos eternos. Mas não precisamos ir afundando, afundando tão rápido. E a balada americana, o filmão pagando de legal na história. Surgindo para a nossa redenção. Compartilhamos como um vídeo bem feito, bem bacana, que nos representa, que diz o que queremos dizer. É isso aí. Parece estratégia de compadre. Corre pra lá, corre pra cá, os mesmos saem sempre ganhando.
A imposição da FIEP – Essa aconteceu ontem, antes de começar o puta show, em Curitiba, do Mano a Mano Trio com o João Bosco. Tudo muito bonito e bem intencionado e feito para ficar difícil criticar. Mas, eu não vou me furtar. Acompanhem comigo:
Nós lá na plateia esperando os músicos entrarem. Quem entra é uma moça da FIEP dizendo que nós vamos ouvir os vencedores de um concurso musical promovido por eles no Paraná todo. Não é linda a iniciativa? Um concurso para incentivar a música entre os jovens. Também acho louvável. Entram os vencedores: uma dupla sertaneja e uma moça cantando em inglês. Notaram, (né?), que os vencedores perpetuam estilos midiáticos. Se a preocupação é com incentivo musical, não seria mais bacana um concurso em que os representantes precisassem cantar um choro, um samba, um afro? Ou quem sabe valorizar os músicos do instrumental. Poderiam fazer um concurso para atingir os alunos das escolas de música ou conservatórios do interior que ensinam violão, piano, violino, contrabaixo, flauta, sax, clarinete, oboé para o Josué. Sei lá, gente. É muita mesmice. É muita manutenção do padrão. E nós lá na plateia tivemos que aceitar e ouvir calados os meninos cantando. Não foi divulgado que o pessoal do concurso cantaria. Quem comprou ingresso não sabia. E eu, se estivesse no lugar do João Bosco e o Mano a Mano Trio, teria ficado na maior saia justa, ao ser perguntado se poderiam começar depois, abrindo um espaço democrático para os jovens. E quando os vencedores terminaram de cantar, a moça da FIEP ainda gritou: não é lindo? Pois, então? Como a gente vai dizer que não e desestimular os jovens? Fiquei tão puta que demorei em conseguir me concentrar no show para o qual tinha ido. Ah! Deixa eu falar: O Mano a Mano está completando dez anos. E para comemorar, além do show de ontem, um DVD gravado com o repertório do João Bosco. Tem até a presença do trombonista Raul de Souza. Tá demais!
Essa não tá no DVD, mas tá na vida. Infelizmente.
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