Calunga ajudando a pedir penico
- Para de gritar isso seu i
- 12 de jan. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de fev. de 2020

Foto: Karen Monteiro
Um mar de vida. Um mar de morte que traz sorte do recomeço nem que seja cinzento. Calunga era um oceano de grande. Calunga era um cemitério de pequeno. Calunga são aqueles que tentaram apequenar com a escravidão. São os lá de Goiás, descendentes de escravos fugitivos e libertos que formaram uma comunidade autossuficiente. Calunga é tanto. Com k com c. Envolta em crença. Vestindo entidades religiosas que têm origem africana. Escolho Calunga com c porque querem que com c seja menor. Que fuja como camundonguinho assustado. Mas vejo-a tão maior. Canto-a além dos badalos dos sinos. Danço-a no ritmo da maré, do encontro da capoeira. Cheiro-a no odor de maresia. Pinto-a na cor de outro andor, transportando credo que se queira e não se imponha. Toco-a no segundo que o tempo tem. Bato-a na aorta. Converso-a na feira com a barraqueira. Falo tantas besteiras. Faço tantas asneiras. E ouço- a sem parar, sem parar, sem parar... Pra fazer girar emoções, vomitar culpas e nocautear medos. Ouço-a com a Orquestra Afrosinfônica (faixa 7 - Feira de São Joaquim) e no CD Caboclo do Itaercio Rocha. Tá em mais ou menos 17min. Mas vale a pena ouvir tudo dos dois. E chorar tudo. Se é que dá. Se é que o oco, o jorro serão suportáveis. Se é que se possa perceber que o vazio é a inexistência sem nada de frequência. É a ausência mesmo na presença. E vive-versa. E no final é tudo igual. No mínimo o máximo. No ázimo o ínfimo. Sem levedura, sem mistura, sem recheio, sem meio, sem esteio. No fundo, o fungo. Do tempo, o rei da palhaçada toda. Dá um tempo, proprietário de nós otários. Para com isso. Nem pedindo penico?
Comments