Não estranhei que um show da qualidade e delicadeza de Caipira , nome também do CD de Mônica Salmaso, não tenha lotado total o auditório da Fiep da Avenida das Torres. O auditório é grande. São quase 800 lugares. As laterais ficaram esperando o curitibano. Vai que aquele que lota show sertanejo com poesia e batida óbvia, facilzinha, viesse, né? Viesse para ouvir coisa bonita de verdade, com arranjo bem cuidado, piano lindamente doído como em Sonora Garoa. Foi de ouvir o sereno da madrugada fazendo plim-plim nas teclas suavemente. É que não era plim-plim de TV, é isso. E tinha tudo que é tipo de flauta, tinha clarinete, acordeom, percussão com batida não metálica e, claro, viola caipira. Um show longo, cheio de histórias. Um show leve, conversado. Estou para dizer que, apesar disso, achei as músicas com um jeito introspectivo, cheias de sutilezas. Algo que vai conquistando devagar, com aquele jeitinho manso, com aquele sotaque gostoso. Bem coisa do interior mesmo. Sem muito apelo. Um desvelo bonito, um novelo arterial que se desenrola lentamente conforme o sangue vai amornando, pensando no café no bule lá no fogão a lenha que desdenha cidade, que desenha e tece mais humanidade.Ouça. Mas ouça mesmo. Não só coloque para tocar. Isso não é música de fundo. É música DO fundo. Tem narrativa mais detalhada, tem causo, do jeito que a Mônica contou que gosta. E causo a gente para pra ouvir.
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