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Gotas decalcadas

  • Foto do escritor: CAIXA CAIXOTE CAIXÃO
    CAIXA CAIXOTE CAIXÃO
  • 27 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 25 de jun. de 2022


Golconda, 1953, de Rene Magritte

Frase de Fernando Pessoa. O slide foi retirado de um pdf de uma aula de literatura de Rogério Camargo.


Chovia, ó raios. Vinham se apegando mais ao chão que ao céu, descendo como mão que não acompanhou véu, aliança ou luva. Ajustavam-se a um ramo. Anelavam-se a um galho. Encobriam o escuro da noite, clareando os sustos. A mãe muda, esperava a filha terminar de molhar ao menos os braços no que tinha de chuva na sacada. Mesmo que falasse, o trovão encobriria o sai daí, nesses dias não é bom ficar fora. A moça continuava brincando com as gotas finas, grossas, que vinham, não vinham, voavam, não voavam ao comando do maroto vento. Observava com deleite as diferenças entre elas, o toque e a impressão de digitais na pele. Esperava, mas com paciência que elas fossem molhando para sentir outra água que não a do monótono chuveiro. Experiências outras para passar essa pandemia sem folia... O que nela sentia não queria mais pensar, ó Pessoa, ó pessoas. E ainda que andar na chuva incomodasse, incomodava mais estar presa sem ter necessidade de entortar o guarda-chuva, uma, duas vezes. Meses sem poder ir atrás de uva mais barata. Luva, nem precisou no inverno. Queria plantar muda em terreno incerto. Ó raios. E logo viria outro maio. Tanta gente sem trabalho. E num ato falho escolheu a imagem para representar o que estava sentindo. Pessoas, muitas pessoas, chegando na sacada pelo céu. De terninho e chapéu. Para recitar poesia ao léu. Ia ser muita chupeta no mel. Nem precisava véu. Ou cortina, Magritte. Juro. Que um raio corte em forma de gotas para decalcar vida. Para descalçar sina no céu ou no chão.


José de Almada Negreiros, Heterônimos de Fernando Pessoa: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, 1957-61, desenhos, pormenor da fachada gravada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.


Poema de Alberto Caeiro


Decalcomania, de René Magritte




Fotos do quintal da Glaucia Domingos, enviadas depois que a narradora perguntou a ela se tinha medo de raio.





 
 
 

2 Comments


CAIXA CAIXOTE CAIXÃO
CAIXA CAIXOTE CAIXÃO
Dec 01, 2020

Fico muito feliz que vc goste! Obrigada!!!

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Valéria Prochmann
Valéria Prochmann
Dec 01, 2020

Parabéns, Karen querida, pela alta qualidade e pela inovação do seu blog, que fica cada vez melhor!

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