top of page
red caixa.png

Sal ao vento

  • Foto do escritor: CAIXA CAIXOTE CAIXÃO
    CAIXA CAIXOTE CAIXÃO
  • 21 de ago. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 25 de jun. de 2022


Nesse escrito poético com obras de Sylvia Capriles:

- Esculturas de sal.

- Exploração de minério na América Latina.

- Esculturas de barro.

- Ato virtual em favor do povo boliviano.




Despedaço-me para não virar aço. Ou não lembrar o maço de inconsistente existência mascado no altiplano para disfarçar a entranha do estômago vazio, o cansaço e o sono. E o ruim que dá de subir tanto. E o desespero que deve bater de se saber explorado. E nem poder ficar louco porque o lítio já foi levado pela indústria multinacional farmacêutica. Pode ter sido levado também, o lítio, pela indústria de baterias para fazer funcionar eletrônicos que a população não vai ter dinheiro para comprar.

Nascem praticamente despedaçados. Criam-se esfacelados os seres que Sylvia Capriles esculpiu com sal para serem deixados lá no deserto Salar de Uyuni, na Bolívia. Fico imaginando Sylvia durante os quatro meses em que preparava a intervenção escultórica. Ao misturar resina de poliuretano, fibra de vidro e sal para dar forma ao protesto e a dor do povo boliviano, essa filha de pai boliviano, moldou esse efêmero que se faz presente há uma eternidade na história dos povos latino-americanos.

E os seres cheios de faltas, ausências e fragmentações foram levados para o deserto de sal e foram ficando e foram entrando numa dança da dissolução até virarem deserto. Até se verem livres da forma opressora. Transgressoras partículas coreográficas infiltrem-se mais e mais na ideologia colonizante. Ou entrem assim, na doída forma, como diáfanos fantasmas dando um sustão bem dado para ver se essa gente vampira exploradora se emenda. Energizem-se no sol. Valham-se do eletrolicamente sal na chuva e mandem embora com um baita choque esses governos fantoches que se instalam nas colônias latino-americanas ricas em zinco, lítio, bauxita, platina, níquel... Além do petróleo, pré-sal e tantos recursos naturais.

Vou aproveitar para me lembrar da situação de um estado brasileiro, o Pará, que tem a segunda maior área de bauxita do mundo. Os platôs explorados estão, na maioria, nas comunidades quilombolas e áreas de proteção ambiental.

Quantos milhões não são entregues, todo ano, aos órgãos ambientais para manter a exploração e os licenciamentos dos platôs?

Fora a mineração em áreas indígenas no Brasil e na América Latina. A Sylvia também fez obras numa aldeia guarani no Chaco boliviano. Fez uma residência lá de três semanas e coletou o barro com as crianças para modelar as obras. Triste, ela conta que ensinou um pouco como fazer cerâmica para as crianças, já que a tradição tinha se perdido na aldeia.


Ela deixou as obras lá, igualmente, para terminarem de se enterrar. Para que cordas e paus da estrutura interna fossem embora quando quisessem. Livres enfim. Quanto custam essas obras que só existem em fotos e que estão guardadas como registro até na Suíça e na Rússia? Valem a luta. Não valem dinheiro. É aquele conceito que muitos artistas usaram nos anos 60 e 70: o site specific.

Obras em harmonia com o lugar. Melhor: obras sendo o local, virando o local, sendo, enfim, pó para assombrar quem precisa ser assombrado.


Mais fotos no final, depois do flyer sobre o ato.

Dia 22 (sábado), às 15h, tem um ato virtual para apoiar o povo boliviano. Compareça. Compartilhe.




 
 
 

Comments


caixa apoia.jpg

SOBRE MIM

GRUPO DE DICAS CULTURAIS.jpg

Seu contato é muito importante para nós. Obrigada por preferir CAIXOLÁ LÁ LINHA. Gorro Andino Sustentável.

CAIXOLÁ LÁ LINHA. Gorro Andino Sustentável.

bottom of page