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  • Foto do escritorCAIXA CAIXOTE CAIXÃO

Hexágono básico

Atualizado: 25 de jun. de 2022

*Escrevi isso no domingo dia 02 de maio. E terminei na manhã de segunda (3 de maio).


Foto: Wagner Camacho. Arte: Eu


Levei duas invertidas inda agorinha que até diminui a caminhada pra vir contar procês. Não sou mineira, mas gosto de falar cada hora dum jeito, dependeno da situação. Fala verdade. Começar no mineirês dá uma intimidade maior... Não venha me dizer que estou com problemas de identidade só porque mudo o jeito de falar toda hora e porque vou usar vocês de orelha na falta de um terapeuta que me ouça.

Tenho que falar que não vejo árvore com fruto que não pare para olhar e, nos dias de mais coragem e tempo, não só olhar, mas tocar a campainha e pedir, nesse caso, uns limõezinhos cravo no carão. A árvore estava estufada. Se a moradora (que apareceu com cara feia na janela fechada) e o filho da moradora quiserem fazer limonada todo dia até junho acho que dá. O problema é que apodrece antes. Pensando no desperdício é que fui para o dim-dom. Digo isso pra deixar claro que não estaria tirando o leite da boca do crianção bobo que me atendeu. Oi. Boa tarde. Desculpa incomodar, mas vocês usam todo esse limão? Usamos sim. Todo. Só vivemos de comer limão aqui em casa. Tá bom. Muito obrigada pela atenção. Desculpa interromper o domingo dentro dessa casa com cortinas fechadas – num dia de sol - e trancas do portão ao chão. Achei até que não encontraria viva alma. Nem estava tão errada. Com aquelas caras escuras nem estavam tão vivas assim.

Calma, poeta, não exagera. Vai que eles estivessem guardando limão para dar para o resto da família e estivessem de saco cheio de ter que dizer não para os caras de pau que passam na rua querendo fazer uma amizade ingênua – um pouco interesseira vai – com uns donos de limoeiro. Ah... Sei lá... A gente podia trocar por uma geleia de casca de melão que tem aqui em casa e que minha mãe enjoou de tanto cravo que eu pus e do tanto que eu fiz. Mas, o azedão comedor de limão não deu nem tempo de a gente entabular um papo. Eu heim... Vou controlar a quantidade de limão que como. Para não desafinar a amistosidade e não deixar o sangue raivoso correr tão solto assim. Vai ver que foi praga de alguém que conheceu nosso antigo limoeiro da antiga casa. Não. Acho que não. O pé nunca deu tanto limão assim e morreu cedo de praga. E não me lembro de nenhum de nós ter negado limão para vizinhança...

É pouco para vocês essa minha malfadada experiência domingueira? Teve mais. Teve mais. Mas esse foi mesmo é um clarão que me bateu em cima de um tronco cortado no meio da calçada. Tão grande que deu até para ensaiar uma parca e reprimida coreografia nele. Já pensei num triste espetáculo em que os dançarinos bailassem todos em cima de uma floresta cortada. Eu mesma me dei a invertida. Isso mesmo poeta. Fica aí querendo arranjar coisa pra escrever. Lança essa ideia e logo vai ter gente cortando árvore para compor cenário. Não, esse tronco é muito pequeno. Esse o círculo não é perfeito. Essas cascas vão sujar o palco. Ou as peças retangulares que caem do tronco estão muito pequenas para serem vistas. Não vão dar o efeito esperado.

Ah! Adaptar a natureza a um padrão que se constroi porque sim. Será que vou querer transformar o formato do tronco em hexágono?

Digo isso porque fiquei pensando nos hexágonos das colmeias. Fico imaginando as abelhas fulas com a gente tentando transformar cada caixinha melíflua em seis triângulos. Faço referência aqui às formas básicas: o triângulo, o quadrado e o círculo. Tendemos a reduzir tudo a elas, não é isso? Os artistas não renascentistas então... Figurativistas, concretistas, abstrativistas... Ah! Essas vistas. Pra dizer a verdade nunca achei bonito e poético pensar nas caixinhas das colmeias como composições básicas de triângulos. Tenho pra mim que as abelhas intuem hexágonos. Não triângulos. E fazem porque sabem que o hexágono tem área maior do que o triângulo e dá para guardar mais mel. Elas também usam três losangos para fechar o plano de trás de cada alvéolo, para arejar a seu jeito cada colmeia, para depois colaborar para respirar cada nosso pulmão.


Para que, então, reduzir tudo ao triângulo pontiagudo e afiado? Ô xongas. Quem precisa de ponta, se já tem ferrão? E se não tem ferrão, tem chão de mel escorrido, líquido, sem formato no mato, coletado em forma que, tá, pode ser pastosa, a qual confundo com fundo. São mil as linhas desfeitas, as bordas esfumaçadas para a coleta, seletas mais espertas sem contornos.

É tudo mais morno em cada caixinha que surge na complexidade sêxtupla, na matemática intuitiva e não na simplicidade triangular que pode ser tão fria.

Mas, não é o simples o melhor, poeta? Não é o simples que é complexo? É que falo desse simples redutor que apaga a origem, consome diferenças, destrói sutilezas. E se para as abelhas o mais simples é o hexágono? Para que complicar pra elas? Por isso me irrita o triângulo? Não é bem que me irrite. É que não gosto de pensar que o olho vê o mundo a partir de formas redutoras... Um nariz pode virar um triângulo, uma mulher na sociedade machista vira virilha triangular, uma araucária desenha-se a partir dessa figura pau pra toda obra. Me angustia isso. Me agonia a transformação dos hexágonos de mel em, sei lá, tripartites para orar para um fantasioso céu.

Vamos para a Frente. Veja, não quero aqui denegrir bichinhos, Lígia. Mesmo porque o movimento deles me faz ver de losangos balonescos no espaço até respirar ventos em leques que circulam em retangulares caixões que ao pó retornarão.


Aula da Julia Buenaventura: https://www.youtube.com/watch?v=YwHY1qJAhW4

Um limão sem pragas, uma maçã sem pecado faz pensar nos seis lados da fruta que Cé

zanne observava.


Aula da Christiane Pinheiro: https://www.youtube.com/watch?v=gKNEjxcvzlA

E pintava tudo, costumavam dizer, como se fossem figuras geométricas. Pessoas como objetos. Defenda-se, Cézanne. Fala da sua busca da essência, da sua quebra dos padrões acadêmicos da perspectiva renascentista e da libertação do artista do fosso fundo.


Aula de Fernando Bini. Não está aberta. Clique aqui se quiser saber como assistir a aula.


Verdade, Cézanne. A retina vê comprimento de onda. Esse olhar para o amontoado de tinta em pasta pode deixar tonta. Era sua intenção Van Gogh?

Tô pensando aqui... Se for pra procurar a gênese da forma no hexágono sou mais girar para frente, seis, oito, dezoito lados, círculo e roda, roda, roda para ver se acha o caminho para casa. Vem esfera. Dança fera colorida. Pousa a retina na tela como que atraído pela eletricidade. Pousa como pousam as abelhas na natureza viva, na carga positiva que lança o sol. Os opostos que se atraem. E quanta flor oposta para olhar com cinco olhos. Três pequenos no topo da cabeça. Olhos simples, os ocelos impressionistas que detectam mudanças de intensidade da luz. E os dois olhos compostos, maiores, com milhares de lentes cubistas minúsculas, na parte frontal da cabeça para detectar a luz polarizada. Olho que de tão comunitário nem precisa ver o vermelho, social, digo.

Ver com um olho, com dois... Depois de ver esse vídeo fiquei achando que Cézanne era um pouco abelhão.


Aula da Patrícia de Camargo.

Durante séculos, o mel foi o adoçante principal em todo o mundo. Relevos egípcios em túmulos do século III a.C. mostram trabalhadores recolhendo mel de colmeias. Os antigos egípcios são considerados os primeiros apicultores da história. A abelha e seus produtos tinham uma importância não só agrícola, mas também nutricional, medicinal e ritualística. O mel foi aplicado a feridas por suas propriedades antissépticas. A cera de abelha foi usada na mumificação e na fabricação de velas. O mel foi usado como oferendas aos deuses. Ramsés III fez uma oferta de 21 mil jarros de mel para Hapi, o deus do Nilo.

Trechos desse texto estão em vários sites e blogs. Tentando achar o original...

Arte egípcia. Não consegui identificar aonde se pode ver.


Porque a inspiração tem um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, sei lá quantos lados...



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